COLABORE

Manifesto: Cáritas na luta antirracista. "É preciso escolher todos os dias a vida".

Institucional

"Vidas negras importam!" O manifesto reafirma: é preciso fortalecer cultura da resistência e a luta contra o racismo estrutural no Brasil.

Publicação: 26/06/2020




A Cáritas Brasileira, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e organização membro da Confederação Cáritas Internacional, vem se juntar às manifestações antirracismo que explodiram nos Estados Unidos, por ocasião do assassinato de George Floyd, pela polícia americana, em 25 de maio deste ano e que ecoam pelo Brasil e pelo mundo. Queremos fazer eco ao manifesto da Pastoral Afro, da Coalização Negra por Direitos e de outras organizações sociais que, como nós, afirmam: Vidas Negras Importam!

A conjuntura sociopolítica do Brasil, historicamente forjada pela colonização mercantil capitalista, e escravagista, caracterizada pela destituição de dignidade e direitos plenos e por práticas racistas, sustentadas por séculos de escravidão é inaceitável!  Não podemos nos calar frente a tantas violências contra as pessoas negras neste país! É preciso um pacto pela vida dos jovens e do povo negro deste país! 

Os fatos e as estatísticas confirmam: a perversa manifestação da dupla discriminação que atingem as mulheres negras, vítimas do racismo e do sexismo, que faz com que recebam os menores rendimentos, sofram com as relações informais de trabalho e sua consequente ausência de proteção social, tanto presente quanto futura – aposentadoria – e ocupam as posições de menor prestígio na hierarquia profissional.  

Ressalte-se ainda que os jovens e homens negros da nossa sociedade são as maiores vítimas de morte violenta.  De 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71% são negras, 61,6% das pessoas privadas de liberdade são negras e os negros representam 75,2% da parcela da população com os menores ganhos no país. Esses dados não são somente números, são pessoas, são vidas interrompidas, são famílias destruídas, são possibilidades negadas! 

Infelizmente os migrantes negros, africanos ou caribenhos, que aqui chegam, são impactados pelo mesmo racismo estrutural.  A falsa receptividade e harmonia não resistem quando esses mesmos migrantes saem da sua subserviência e reivindicam direitos. Quando expressam o desejo de serem mais que uma cultura de entretenimento.

Também é preciso dizer que a Covid-19 evidenciou a iniquidade desse país. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a disseminação da Covid19 no Brasil decorre das desigualdades sociais. Vidas em perigo na cidade, nas ruas, nos territórios. Especialmente da população mais vulnerável que, na sua esmagadora maioria, é negra.

A Cáritas Brasileira reafirma:

A importância de atuar contrapondo ao preconceito, à discriminação, à xenofobia e ao ódio pela cor, religião, nacionalidade, orientação sexual. 

A rejeição às falas e hábitos pejorativos, incorporados ao nosso cotidiano, que reforçam e naturalizam o racismo, promove a exclusão e o desrespeito pela humanidade das pessoas negras deste país e pelas pessoas migrantes que aqui chegam; 

A urgência em trabalhar para a mudança de mentalidades, construir saberes, metodologias e abordagens alternativas;

A importância de repensar o papel da Polícia Militar e seu papel de proteção e segurança na sociedade, pois já não é possível tolerar que as mortes de pessoas negras sejam justificadas como equívocos, como atos falhos. Entendemos que essas ações são derivadas da criminalização de negros e negras pobres, vistos como suspeitos;

A necessidade de juntos fortalecermos a cultura da resistência, a luta contra o racismo, integrando as lutas, integrando os povos, reafirmando que a vida do povo negro importa.

É preciso escolher todos os dias a Vida e a Luta Contra a Morte. Essa luta é de tod@s nós, de toda sociedade brasileira! 

Brasília, 26 de junho de 2020

Cáritas Brasileira


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